Domingo em casa

Domingo eu acordei sentindo o cheiro do domingo na casa dos meus pais.
O ar recendia a fogão à lenha, polenta. Por felizes segundos, eu achei que fosse verdade. Que eu ainda tinha 22 anos. Que poucos passos me separavam do abraço matinal da mãezinha. Que eu tinha algo mais concreto que a saudade.

Muitas vezes eu chegava tarde das festas e minha cama já estava arrumada, prontinha pra receber meu corpo cansado. No dia seguinte, meu despertar se dava pelo cheirinho de almoço invandindo o quarto e aguçando minha fome. Ou o enjoo provocado pela noitada anterior... Não era diferente de quando eu vinha da faculdade exausta e tinha minha velha me esperando na janela com um sorriso, saladinha preparada, conversa bonita e carinho de mãe.

"Que saudade, minha filha." - ela dizia ao me encontrar - Passei o dia com saudade de você.

Meu pai não é mero coadjuvante na história. Estava sempre preocupado com minha saúde, meu status financeiro e minha alegria. Também devotava carinho e ria dos meus pileques enquanto a mamãe ficava séria e contrariada.

Com meu irmão eu convivi em casa até os 15 anos. Depois ele casou e ocorreu aquele inevitável afastamento. Minhas lembranças vão lá na cara que ele fazia quando meus pais o obrigavam a me levar a uma festa, que era muito engraçada! Melhor ainda era o zelo que tinha quando percebia algum marmanjo olhando pra irmãzinha dele no tal evento, me cercava que nem boi bravo.

Queria voltar a morar lá qualquer hora, nem que por alguns dias. Uma breve estada, só pra reavivar aquela sensação de novo. Pra sentir aquele cuidado que a gente só recebe da família. Pra sentir de verdade aquele cheirinho de domingo.