Capital secreta do meu mundo


Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:“Eu sou lá de Cachoeiro...” (Rubem Braga)

A mentira e as verdades do Natal

Papai Noel. A gente nunca devia mentir desse jeito para as crianças. É feio. Porque até certa idade, nós, adultos, somos a fonte de confiança do mundo dos pequenos. E aí a gente inventa um Papai Noel pra vida deles. Crença mais sem propósito. Tão bonito dar presente. Tão gostoso ver o sorriso e o brilho verdadeiro do olhar de uma criança ao ganhar um brinquedo. E por que não podemos dizer que fomos nós, pais, tios, avós que compramos e escolhemos com amor o objeto que tanto elas gostaram? Por que os presentes têm de vir de uma lenda?

"Filho, Papai Noel não existe. Jesus é que existe, aqui dentro, no seu e no meu coração. É Natal porque há muuuuito tempo atrás nasceu um bebezinho chamado Jesus que veio ensinar o amor ao mundo. Natal é aniversário de Jesus. Os presentes que você ganhou fomos nós, eu e o papai que compramos, porque nós te amamos muito e queremos te ver feliz. O Papai Noel foi inventado por pessoas que só querem ganhar dinheiro." Pronto. Simples, puro e verdadeiro.

Não, eu não sei se vou conseguir dizer ao meu filho que o velho barbudo não existe. Mas vou ensinar a ele que Natal, de verdade, é outra coisa. Bem maior que brinquedos e grandes festas. E na minha casa vai ter árvore de natal, mas também um lindo presépio, que as crianças vão ajudar a montar. Enquanto a gente organiza a cena do nascimento de Cristo, eu vou contar pra elas toda a história, ano após ano, e enquanto elas quiserem participar desse momento. Aí vai ser questão de tempo pra eles descobrirem, sozinhos, que o Papai Noel é uma grande mentira de Natal.

Nova de novo

Hoje termina mais uma idade. E amanhã tem outra. E depois mais uma e de novo e de novo. Tomara que tenham muitos e muitos de novos daqui pra frente.

Amanhã começa uma nova eu. Porque a cada aniversário a gente nasce. E a cada aniversário a gente morre também. Quero que morra em mim tudo que não é azul, nem bonito, nem feliz. E quero renascer mais entusiasmada, engraçada e mais magra (!) - porque gordura tá na cabeça da gente.

Em poucas horas será o meu aniversário.
E vou estar no lugar exato onde minha vida tem mais cor, mais sabor e, literalmente, mais calor. De uns tempos pra cá, a data mais importante do ano costuma ser também a mais triste. Na idade nova, quero querer que isso mude também. Afinal, o certo é ser feliz em qualquer lugar.

Minha vida tá boa como tá e eu sou feliz como sou, aos 25. Acontece que isso acaba, e, aos 26 as coisas passam a ter uma idade diferente também.

Amanhã começa uma nova eu. E eu quero ser mais!

Aquela premissa...

que diz que você é o que você come nunca me pareceu tão certa hoje. Acordei com uma baita cara de mexerica (meio azeda, mas até que docinha).
No decorrer do dia me transformei num tijolo de doce de leite, de tão enjoativa.
E, antes de dormir, tô parecendo um prato de arroz branco, de tão sem graça.
Tomara que amanhã o espelho me mostre um petit gateau ou um sundae!

Lá em Cachoeiro

Esta estória não é de minha autoria. Não sei ao certo quem a criou, mas eu gostei. Ah, gostei!

“Estava num passeio em Roma quando, ao visitar a Catedral de São Pedro, fiquei abismado ao ver uma coluna de mármore com um telefone de ouro em cima.
Vendo um jovem padre que passava pelo local perguntei a razão daquela ostentação. O padre então me disse que aquele telefone estava ligado a uma linha direta com o paraíso e que se eu quisesse fazer uma ligação eu teria de pagar 100 dólares. Fiquei tentado porém declinei da oferta.
Continuando a viagem pela Itália encontrei outras igrejas com o mesmo telefone de ouro na coluna de mármore.
Em cada uma das ocasiões perguntei a razão da existência e a resposta era sempre a mesma: Linha direta com o paraíso ao custo de 100 dólares a ligação.
Depois da Itália vim para o Brasil e fui direto para Cachoeiro do Itapemirim (ES) (de um país para outro país).
Ao visitar a nossa gloriosa Catedral de São Pedro, que fica no centro, em Cachoeiro, fiquei surpreso ao ver novamente a mesma cena: uma coluna de mármore com um telefone de ouro. Sob o telefone um cartaz que dizia: LINHA DIRETA COM O PARAÍSO - PREÇO POR LIGAÇÃO = R$ 0,25 (vinte e cinco centavos).
Não me aguentei…
- Padre!! -Eu disse. Viajei por toda a Itália e em todas as catedrais que visitei vi telefones exatamente iguais a este mas o preço da chamada era 100 dólares. Por que aqui é somente R$ 25 centavos?
O Padre sorriu e disse:
- Meu amigo, você está em Cachoeiro de Itapemirim. Aqui, a ligação é local.”

A gente não faz aniversário...

...os aniversários é que fazem a gente. Li um texto do L.F. Verissimo que começava assim. Adorei. É uma grande verdade.

Domingo em casa

Domingo eu acordei sentindo o cheiro do domingo na casa dos meus pais.
O ar recendia a fogão à lenha, polenta. Por felizes segundos, eu achei que fosse verdade. Que eu ainda tinha 22 anos. Que poucos passos me separavam do abraço matinal da mãezinha. Que eu tinha algo mais concreto que a saudade.

Muitas vezes eu chegava tarde das festas e minha cama já estava arrumada, prontinha pra receber meu corpo cansado. No dia seguinte, meu despertar se dava pelo cheirinho de almoço invandindo o quarto e aguçando minha fome. Ou o enjoo provocado pela noitada anterior... Não era diferente de quando eu vinha da faculdade exausta e tinha minha velha me esperando na janela com um sorriso, saladinha preparada, conversa bonita e carinho de mãe.

"Que saudade, minha filha." - ela dizia ao me encontrar - Passei o dia com saudade de você.

Meu pai não é mero coadjuvante na história. Estava sempre preocupado com minha saúde, meu status financeiro e minha alegria. Também devotava carinho e ria dos meus pileques enquanto a mamãe ficava séria e contrariada.

Com meu irmão eu convivi em casa até os 15 anos. Depois ele casou e ocorreu aquele inevitável afastamento. Minhas lembranças vão lá na cara que ele fazia quando meus pais o obrigavam a me levar a uma festa, que era muito engraçada! Melhor ainda era o zelo que tinha quando percebia algum marmanjo olhando pra irmãzinha dele no tal evento, me cercava que nem boi bravo.

Queria voltar a morar lá qualquer hora, nem que por alguns dias. Uma breve estada, só pra reavivar aquela sensação de novo. Pra sentir aquele cuidado que a gente só recebe da família. Pra sentir de verdade aquele cheirinho de domingo.